Ex-presidente do BNDES defendeu a instituição e normalizou práticas de financiamento a empresas estrangeiras
A deputada federal Paula Belmonte participou nesta quarta-feira (10) da primeira oitiva da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar atos ilícitos e irregularidades no âmbito do BNDES, na Câmara dos Deputados. Conforme o Rquerimento N° 9 do deputado Kim Kataguiri, foi convocado para esclarecer os dados do banco o ex-presidente do BNDES Demian Fiocca.
A deputada Paula Belmonte perguntou ao ex-presidente da instituição Demian Fiocca o porquê da resolução que elevou o percentual do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que pode ser usado para empréstimos. Antes de 2003, primeiro ano do governo Lula, somente 20% dessa reserva podia ser utilizada com esse propósito. Com a mudança, o percentual foi à metade do total. Como em vários momentos do depoimento, Demian disse que não sabia.
Fiocca também disse à Paula Belmonte que precisava consultar os documentos do banco para explicar a mudança nos critérios de risco do a partir do início da gestão do PT. Em países como Venezuela e Cuba, o perigo de calote, que era de sete pontos, caiu repentinamente para um. Hoje, os dois países estão inadimplentes com o Brasil, que financiou a construção do porto de Mariel e o metrô de Caracas.
A deputada também foi surpreendida pela afirmação do ex-presidente de que não falta dinheiro no BNDES, por isso tantos financiamentos estrangeiros.
Segundo Demian Fiocca, o BNDES não escolhe as empresas para as quais vai conceder crédito, mas são essas que buscam a instituição, apesar de uma carteira de crédito com 78% de gigantes da iniciativa privada.
Ex-funcionário do Ministério do Planejamento e atual empregado da iniciativa privada, como descreveu o próprio currículo, Fiocca falou na quinta reunião ordinária da CPI que “são injustos e equivocados os comentários sobre corrupção no BNDES” entre os anos de 2006 a 2007, quando esteve na presidência.
Ao ser questionado pelo autor do relatório que resultou na sessão desta tarde, Kim Kataguiri, sobre a participação nas análises de crédito e financiamento aos países estrangeiros, o economista também deu como justificativa o caráter típico do BNDES de empresa do Estado. Segundo Fiocca, a contratação da maior parte do quadro é de concursados, que compõem a diretoria, e as informações sobre análises passavam apenas por essa, não pelo presidente. “É difícil imaginar uma nação desenvolvida sem ter grandes empresas internacionais, é intuitivo”, argumentou.
O deputado federal de São Paulo relembrou a postura de Demian ao dar entrevista há uns anos, quando declarou que “ações submetidas à opinião pública perdem a capacidade de viabilizar projetos do banco, fica comprometidas assim”, em referência à burocracia e às investigações sobre as operações da instituição.
Fiocca foi convidado a ocupar uma vaga de secretário de assuntos internacionais do BNDES após receber um convite do então presidente da entidade, Guido Mantega, preso na 34ª fase da Operação Lava Jato. Segundo a delação do empresário Joesley Batista, o ex-ministro da Fazenda recebeu, apenas em uma operação, R$ 5 milhões.