A deputada Paula Belmonte confrontou, na CPI do BNDES, o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Mauro Borges Lemos, dizendo que ele não estava falando a verdade quando disse que na Camex não tinha “canetada” nas decisões sobre empréstimos.
A parlamentar apresentou uma ata de 2014 em que consta a orientação contrária de um técnico do Cofig (Comitê Financeiro e Garantias das Exportações) a uma operação de R$ 320 milhões com Moçambique. Os ministros que formavam a Camex, inclusive o depoente, que então comandava o MIDC, ignoraram o parecer e seguiram com a operação. O país africano até hoje está inadimplente.
Segundo a deputada, consta da ata o motivo de o técnico ter se colocado contra o empréstimo: “O problema era que não havia conta garantia”, explicou ela. Mauro Lemos contestou e disse que não precisava de conta garantia. Paula Belmonte disse ao ex-ministro que ele tinha valor, mas “foi omisso”.
Para Paula Belmonte, existia uma política determinada em instâncias superiores ao BNDES que o banco tinha que seguir. “(Essa política) era feita pelo próprio presidente da República e seus ministros. Os técnicos simplesmente cumpriam o que se decidia lá em cima”, disse a deputada. Ela informou que ouviu de um técnico que “a operação chegava pronta, a gente só aprovava, não se questionava”.
O ex-diretor jurídico do BNDES Marcelo de Siqueira Freitas falou sobre algumas operações famosas da instituição, como a compra do frigorífico Bertin pelo grupo JBS e contou que o BNDES-PAR não se deu conta de que estava sendo roubado pela empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista porque havia entre a Bertin e a JBS um contrato de gaveta. A Bertin foi superavaliada no negócio para que os dois irmãos pudessem embolsar um lucro extra em cima do banco estatal.
“O senhor Marcelo confirmou que o BNDES não estava observando seu objetivo principal, que era proporcionar desenvolvimento econômico ao país”, disse a parlamentar. Ela lembrou que o ex-diretor afirmou que empresas de auditoria reconhecidas internacionalmente colocavam seu nome no processo, mas acrescentavam uma observação de que não havia sido feita “uma avaliação analítica”.
A deputada frisou que a CPI não quer acabar com o BNDES, como afirmam deputados da oposição, mas sim fazer com que o banco vise o desenvolvimento nacional, com geração de emprego e fazendo com que as micro, pequenas e médias empresas se expandam. “Podemos exportar serviços, mas com critérios”, finalizou Paula Belmonte.